Navios Sedentos 13/01/2011

Acordei na tarde do dia 11 de janeiro sentindo o navio vibrar fortemente, o que indicava que estávamos navegando em velocidade aumentada. Ou seja, havíamos identificado a posição de um possível alvo. O helicóptero já estava no ar e o Gojira estava a caminho, ambos com a tarefa de identificar visualmente o que havia sido detectado no radar do Gojira no início da tarde. O que foi encontrado não foi o navio-fábrica, mas o navio-tanque, responsável pelo fornecimento de combustível a toda a frota baleeira. Conforme foi descoberto mais tarde, o navio-tanque é o Sun Laurel, de bandeira panamenha. Com o Gojira já na sua traseira no início do meu turno da noite a bordo do Steve Irwin, seriam agora necessárias algumas horas para alcançá-lo, o que aconteceria somente na manhã seguinte.

Foto por George Guimarães

Foto por George Guimarães

O dia amanheceu ensolarado como já não amanhecia há uma semana. Às 4 da manhã, lá estava ele, o enorme navio-tanque de 104 metros de comprimento. Às 11 da manhã, o Capitão do Gojira fez contato via rádio identificando-se como membro de uma organização conservacionista atuando com base em uma resolução das Nações Unidas e solicitou esclarecimentos. Naturalmente, o Capitão do navio-tanque já sabia do que se tratava, mas a formalidade é necessária para que a comunicação seja devidamente documentada. A transmissão foi acompanhada da Ponte de Comando do Steve Irwin, que apenas observou. A primeira pergunta feita pelo Capitão do Gojira foi se o navio havia realizado alguma atividade de reabastecimento da frota japonesa, ao que o Capitão do navio-tanque Sun Laurel respondeu negativamente. É interessante notar que essa é a primeira vez que um dos navios da frota japonesa responde a um chamado feito via rádio. Eles geralmente ignoram a solicitação. Seguiu-se um esclarecimento sobre a norma do Tratado Antártico que proíbe a transferência de combustíveis ao sul dos 60 graus sul de latitude, destacando que o responsável por uma embarcação que venha a infringir essa norma pode ter a sua licença de Capitão cassada. O Capitão do navio-tanque reafirmou que não estava realizando esse tipo de atividade e que se dirigiria para fora dali, rumo ao Equador. É claro, eles estavam apenas passeando abaixo dos 60 graus sul de latitude com um navio-tanque e já estavam retornando à América Central, que fica a mais de cinco mil milhas náuticas de distância (cerca de 50 dias de navegação para um navio como esse).

Foto por George Guimarães

Foto por George Guimarães

Na manhã de hoje, recebemos a presença do Bob Barker, completando a reunião de toda a frota da Sea Shepherd em torno do navio-tanque. Mais uma vez, foi emocionante ver toda a frota reunida e uma movimentação especial começava a tomar forma. Em pouco tempo, o navio-tanque foi rodeado pelas três embarcações, que se colocaram em formação no seu entorno formando um raio com poucos metros de distância, deixando clara a nossa intenção de escoltá-lo para longe da área onde está a frota japonesa. O helicóptero também sobrevoava o navio para documentar tudo. Tendo deixado clara com esse posicionamento a intenção da frota, eles foram mais uma vez alertados sobre a violação representada pela sua presença abaixo dos 60 graus sul de latitude e responderam reiterando a sua intenção de retornar ao Equador, a qual não mais poderia ser adiada. Colocado na rota certa, ele continua seguindo na mesma direção. Com a reputação conquistada pela Sea Shepherd nos últimos anos, algumas vezes sequer é preciso agir. O mero posicionamento ostensivo já causa a sujeição do adversário.

Foto por Barbara Veiga

Foto por Barbara Veiga

Foto por George Guimarães

Foto por George Guimarães
Como são tantas as normas que a frota baleeira japonesa viola nessa região do planeta desprovida do monitoramento de governos ou organizações, seria ingênuo simplesmente acreditar no que eles dizem. Por isso, continuam sendo seguidos bem de perto, há menos de uma milha náutica de distância, enquanto são escoltados para fora do Santuário de Baleias da Antártida, onde jamais deveriam ter entrado! No período da noite, o navio-tanque já havia cruzado a linha dos 60 graus sul de latitude e o objetivo agora é levá-lo para uma distância ainda maior da frota baleeira, com o que ele mostra estar de acordo já que se mantém em rota e velocidade estáveis ainda em direção ao continente americano.

Foto por George Guimarães

Tendo encontrado o navio responsável pelo fornecimento de combustível para toda a frota baleeira e o mantendo sob monitoramento cerrado, três coisas poderão acontecer: 1) a frota japonesa terá que se aproximar da frota da Sea Shepherd e tentar (em vão) reabastecer, 2) ela enviará um novo navio-tanque, o qual levaria pelo menos duas semanas para chegar até a região e implicaria em um novo custo para somar aos seus prejuízos ou 3) impossibilitada de reabastecer e de caçar, ela retornará para casa deixando as baleias em paz.

O Gojira continua navegando mais ao sul em busca do navio-fábrica, que até esse momento ainda não foi encontrado. Os dois navios arpoeiros continuam na nossa traseira, o que é bom, pois significa que não estão caçando. Eles já podem ser vistos flutuando mais altos sobre a água, o que indica um estoque baixo de combustível. Desse modo, a presença em torno do navio-tanque coloca um prazo certo para que toda a frota baleeira volte para casa. A não ser, é claro, que eles decidam intervir para afastar o Steve Irwin e o Bob Barker, situação para a qual, para não dizer que a tripulação está ansiosa para que aconteça, direi apenas que estamos muito bem preparados caso eles tomem essa decisão equivocada.

Foto por Barbara Veiga

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