Certeza 24/12/2010


Resumindo a saga até esse momento: depois de ter tido apenas 36 horas para os preparativos, seguidas de 36 horas cheias de ansiedade entre aeroportos, embarquei diretamente em outras 36 horas, dessa vez cheias de náuseas. Enfim, fui batizado na melhor (ou pior) das situações. Acredito agora estar pronto para a campanha, mas só poderei confirmar isso quando encontrarmos a próxima turbulência. A previsão é que ainda haja alguns bons trechos turbulentos conforme continuamos a descender com a proa voltada ao Pólo Sul!

Uma coisa que considero importante dizer sobre toda essa experiência inicial com a navegação em mares inóspitos é que não há medo. Há apenas desconforto. Com o corpo sentindo os efeitos, há momentos em que vem o pensamento sobre “que raios estou fazendo aqui”, mas em seguida a pergunta é respondida e qualquer dúvida é dissolvida.

Há 7 bilhões de pessoas no mundo e dentre todas elas, apenas 90 pessoas (somando a tripulação de toda a frota da Sea Shepherd: Steve Irwin, Bob Barker e Gojira) estão in loco dispostas a fazer algo efetivo para pôr fim ao assassinato dessas baleias que passam pela Antártida durante o verão, quando são mortas pelos mais fúteis dos motivos: a ganância de quem lhes tira a vida e o paladar de quem consome a sua carne.

Como não poderia deixar de ser, há algo mágico em compartilhar um navio com outras 40 pessoas que escolheram estar a bordo pelo mesmo motivo. Na verdade, em toda a frota, são 88 pessoas vindas de 22 países. As nacionalidades são diversas, mas falamos a mesma língua. Viemos de culturas diferentes, mas estamos todos aqui porque pudemos enxergar o mesmo problema independentemente do nosso filtro cultural. Naturalmente, os tipos são os mais variados, mas há algo em comum entre o comprometimento e a loucura de cada um de nós. Há em cada um daqueles com quem estou compartilhando essa campanha a mesma incontestável certeza sobre a necessidade e a importância de estarmos aqui. Também compartilhamos da mesma ansiedade, que é a de avistar o quanto antes a frota baleeira japonesa despontar no horizonte para colocarmos em prática aquilo para o que nos preparamos.
Foto por Eric Cheng

2 comentários:

  1. Vcs são realmente admiráveis e pessoas muito especiais para estarem aí.
    Nós, por aqui, vamos fazendo o que é possível: somos afiliados ao Sea Shepherd, fazemos a divulgação desse trabalho incrível, tentamos ajudar nossos irmãos terrestres e assim vamos vivendo nesse mundo, aparentemente tão cruel...
    Quando estou desanimada, sentindo que nossos esforços são tão frágeis, assisto um pouco dos vídeos do SEA e recobro minhas esperanças na humanidade.
    Parabéns a todos vcs e em especial ao amado Paul que luta incansavelmente. Ele e todos aí me fazem acreditar em um mundo melhor.
    Feliz 2011!
    Cristina

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  2. É isso aí George, faço ideia de como deve se sentir fazendo um dos trabalhos ativistas mais raros no mundo.

    Deve ser bem parecido quando eu abordei uns caçadores de passarinho lá nas terras de meu pai e coloquei-os para correr e depois de algum tempo caminhado pela floresta eu ouvi um trinca-ferro que era o objetivo da caça. Foi um dos mehlores momentos da minha vida.

    Você ainda vai ouvir muitas baleias na sua viagem!

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