Fuga Tempestuosa 22/01/2011

Nos últimos dias, a rotina foi quebrada de maneira intencional e não-intencional (ou semi-intencional). Alguns membros da tripulação realizaram oficinas para compartilhar o seu conhecimento. Uma das engenheiras explicou sobre o funcionamento do seu setor (motores, geradores, etc), descrevendo os equipamentos e procedimentos em caso de emergências, como um incêndio, por exemplo, o que requereria a entrada da brigada de incêndio e por isso a necessidade de nos familiarizarmos com o ambiente e equipamentos desse setor. As explicações foram completadas por uma visita em pequenos grupos a esses ambientes que geralmente têm o acesso restrito ao restante da tripulação. Ficamos tão felizes com a “excursão” que outras oficinas foram propostas. Um tripulante experiente ensinou a todos sobre noções básicas de navegação (cartas, instrumentos, cálculos) e eu fiz uma oficina sobre nutrição vegetariana.

Foto por George Guimarães
Oficina Engenheira Beth

Foto por George Guimarães
Tripulação assistindo às oficinas

No dia 17 de janeiro o navio-tanque continuava a ser escoltado para garantir que ele não reabasteceria a frota baleeira. Os dois navios arpoeiros continuavam nos acompanhando bem ao norte da região do Tratado Antártico, deixando a certeza de que não estariam caçando. Mas o navio arpoeiro e o navio-fábrica continuavam incógnitos em sua localização e poderiam estar caçando mais ao sul.

A estratégia da frota japonesa é a de despistar a frota da Sea Shepherd do rastro do navio-tanque enquanto busca preservar o rastro que mantinha no Bob Barker e no Steve Irwin usando os navios arpoeiros. Assim, teriam o navio-tanque livre para reabastecer o navio-fábrica e poderiam mantê-los a uma distância segura na medida em que os navios arpoeiros informariam a posição dos navios da Sea Shepherd que continuariam a ser seguidos. Já a estratégia desse lado era a de perder um dos navios arpoeiros para poder ir procurar o navio-fábrica enquanto o outro navio continuaria escoltando o navio-tanque.


Foto por George Guimarães
Ondas pela lateral traseira do Steve Irwin

Foto por George Guimarães
Onda atinge lateral do Steve Irwin

Foto por George Guimarães
Onda atinge a proa do Steve Irwin

Foto por George Guimarães
Onda gigantesca se aproxima pela lateral


Foto por George Guimarães
Bob Barker em meio à tempestade

O Steve Irwin balançava de maneira severa, tombando mais de 30 graus para cada lado. A situação no Bob Barker, que estava ao alcance da nossa vista nos momentos em que a tempestade permitia, era ainda pior, pois a sua estrutura faz com que ele balance ainda mais quando atingido por ondas pela lateral. A bagunça no interior do navio era grande conforme os objetos, por mais bem amarrados que estejam o tempo todo, se deslocavam pelos vários ambientes do navio. Cadeiras, pratos, pessoas, tudo era jogado para lá e para cá. Na Ponte de Comando, que fica em uma posição mais elevada no navio e por isso balança ainda mais, balançávamos tão intensamente quanto os objetos que ocupavam (e desocupavam) as bancadas. As ondas chegaram a 12 metros de altura, frequentemente invadindo o convés do navio. A travessia pela tempestade durou até o dia seguinte e todos os navios mantiveram as suas posições.

Foto por George Guimarães
Bob Barker sofrendo o impacto das ondas

Foto por George Guimarães
Equipe do Deck trabalhando em meio à tempestade

No dia 18 de janeiro foi a vez do Steve Irwin tomar a frente no jogo. Um dos navios arpoeiros mostrou-se recuando no radar, provavelmente passando por alguma falha temporária e esse foi o momento para colocar em ação uma estratégia de evasão para que pudéssemos estar livres para buscar pelo navio-fábrica. O Bob Barker manteve a sua posição no rastro do navio-tanque enquanto o Steve Irwin acelerou para ultrapassá-lo, deixando-o para trás juntamente com o navio arpoeiro que apresentava alguma dificuldade. O outro navio arpoeiro escolheu ficar atrás do Bob Barker. 

Foto por George Guimarães
Sun Laurel sendo ultrapassado

A tempestade que se apresentava mais adiante foi escolhida para assegurar o sucesso da evasão. A diferença foi que a meteorologia indicava ventos com mais de 100 km/h para essa nova tempestade, que é a velocidade do vento de um furacão. Não há furacões nessa região do planeta porque os sistemas meteorológicos são desprovidos do calor necessário, mas a força do vento em tempestades como essa que se formava adiante é a mesma força do vento de um furacão.

Foto por George Guimarães
Onda lateral invade o convés do Steve Irwin

Foto por George Guimarães
Onda ergue a proa do Steve Irwin

Foto por George Guimarães
Ondas atingem a traseira do Steve Irwin

As ondas dessa vez chegavam a 15 metros de altura, as maiores encontradas durante toda a expedição. O navio se colocou de frente para as ondas, que a maneira mais confortável possível nessa situação onde a frequência das ondas é de 3 a 5 segundos. O fato de a onda ter 15 metros de altura não significa que elas cobrem o navio, pois ele se eleva junto com as ondas. O que isso significa é que a cada 5 segundos sofremos uma ascensão seguida de uma queda de até 10 metros. Por vezes, no entanto, dependendo da reação que a onda anterior provocou no navio, combinada com a direção da onda e outros fatores, ela pode sim invadir o navio. O convés era frequentemente inundado quando a proa, sem tempo para se elevar, se chocava diretamente contra uma onda. Em um único segundo, toneladas de água eram colocadas sobre o convés. Por vezes as janelas da Ponte de Comando eram atingidas pela água que subia com esse impacto.

Foto por George Guimarães
Onda invade o convés do Steve Irwin

Foto por George Guimarães
Ondas atingem a proa e espirra na Ponte de Comando

Foto por George Guimarães
Onda gigantesca pela traseira do Steve Irwin

A tempestade durou cerca de 12 horas, durante as quais seguimos adiante com a certeza de que esse risco nos garantiria a liberdade para continuarmos buscando pelo navio-fábrica. No dia seguinte, o Steve Irwin estava livre para voltar a rumar em direção ao sul para que assim possamos render de uma vez por todas a frota baleeira japonesa.

Foto por George Guimarães
Passada a tempestade

O Gojira, que varria o oceano mais ao sul, teve que retornar à Austrália para reparos no motor nos últimos dias, mas estará de volta em breve para retomar a busca. Tudo indica estarmos nos aproximando do navio-fábrica.

Durante esses dias mais ao norte, onde há um período curto de noite, tivemos a presença de uma linda Lua Cheia que iluminou a vastidão do oceano para ajudar nossos olhos, já desacostumados com a escuridão, a manterem-se atentos aos possíveis obstáculos. Mas tudo o que vimos por dias seguidos foi água. Hoje, já distantes da possibilidade da noite, voltamos a encontrar alguns growlers e icebergs pelo caminho.

Foto por George Guimarães
Lua Cheia iluminando o caminho

 
Para mais notícias, fotos e vídeos, acesse http://www.seashepherd.org

2 comentários:

  1. Deve ter sido a experiência mas rica, acredito, da sua vida. Adoraria saber mais...
    Compartilhe mesmo tudo que viveu com amigos e ativistas, pelo exemplo do esforço, como também pelo valioso objetivo.
    Maravilhoso!
    Obrigada
    Angela Caruso

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pela sua coragem! Estou tentando ser vegana há 3 meses, mas confesso que é muito difícil, por favor preciso que alguém me acolha nessa nova missão da minha vida, que me mandem algumas receitas veganas e alguma formação sobre essa tão importante filosofia de vida para a humanidade. Um abraço. Feliz 2012 para todos. Pinheiral/RJ, 04/01/2012 Meu e-mail: cidasantospinheiral@hotmail.com

    ResponderExcluir